E.E. PROF. FERNANDO BUONADUCE - LÍNGUA
E LITERATURA – 3 TA (Prof.ª Silvia Siqueira)
(03/04/2020)
O fragmento que você vai ler
pertence ao capítulo VII da última parte de O
guarani. Antes de lê-lo, vamos conhecer o enredo desse romance.
“Nos fins do século XVI a
família Mariz instala uma fazenda às margens do Paquequer, Ali enfrentam
diversos inimigos: o italiano Loredano, as agruras das florestas tropicais e os
selvagens. Peri, o índio de “alma nobre”, procura salvar a família e servir humildemente
a doce Cecília, mostrando-se um herói nos combates com os aimorés. Estes
terminam por cercar a casa dos Mariz. Peri é batizado e incumbido de levar Ceci
à civilização, antes que os aimorés matem a todos e incendeiem a casa. No
caminho, Cecília decide ficar com Peri. O romance termina quando os dois são
surpreendidos por uma enchente. Peri corta a palmeira na qual os dois se haviam
refugiado e, em cima dela, são arrastados pela correnteza em direção a uma
cachoeira.
O GUARANI
(Peleja)
José
de Alencar
Quando
a família de D. Antônio de Mariz gozava dos primeiros momentos de tranquilidade
que sucedia a tantas aflições, soou um grito na escada de pedra.
Cecília
levantou-se estremecendo de alegria e felicidade; tinha reconhecido a voz de
Peri.
No
momento em que ia correr ao encontro de seu amigo, mestre Nunes, já tinha
abaixado uma prancha que servia de ponte levadiça, e Peri chegava à porta da
sala. (...)
Peri
trazia nos seus ombros o corpo inanimado de Álvaro; e no rosto uma expressão de
tristeza profunda. Atravessando a sala, depôs sobre o sofá o seu fardo
precioso, e olhando o rosto lívido daquele que fora seu amigo, enxugou uma
lágrima que lhe corria pela face. (...)
Depois
dessa primeira comoção produzida pela chagada de Peri, o fidalgo interrogou o
índio e ouviu de sua boca a narração breve dos acontecimentos, cuja peripécia
tinha diante dos olhos.
Eis
o que havia passado. (...)
Havia
uma hora que durava esse combate, começando com armas de fogo; mas os aimorés
atacavam com tanta fúria, que breve tinham chegado à luta corpo a corpo e à
arma branca.
No
momento em que assomava à margem da clareira, um incidente veio modificar a
face do combate.
O aventureiro que dava as costas
a Álvaro, levado pelo ardor da peleja, adiantou-se alguns passos para ferir o
inimigo; os selvagens o envolveram, deixando a coluna interrompida e Álvaro sem
defesa. (...)
Desde porém que os aimorés viram
o moço sem defesa pelas costas, e expostos aos seus golpes, concentraram-se
nesse ponto; um deles, adiantando-se, ergueu com as duas mãos a pesada tangapema e atirou-a ao alto da cabeça
de Álvaro.
O moço caiu; mas na sua queda a
espada descreveu ainda um semicírculo e abateu o inimigo que o tinha ferido à
traição; a dor violenta dera a esse último golpe uma força sobrenatural.
Quando os índios iam
precipitar-se sobre o cavaleiro, Peri saltou no meio deles, e agarrando a
espingarda que estava a seus pés, fez dela uma arma terrível, uma clava
formidável, cujo poder em breve sentiram os aimorés. Apenas se viu livre do
turbilhão dos inimigos, o índio tomou Álvaro nos ombros, e abrindo caminho com
a sua arma temível, lançou-se pela floresta e desapareceu.
Alguns o seguiram; mas Peri
voltou-se e fê-los arrepender-se de sua ousadia; livrando-se do peso que
levava, carregou a espingarda com as munições que Álvaro trazia e mandou uma
bala àquele que o perseguia mais de perto; os outros, que já o conheciam pelo
combate da véspera, retrocederam.
A ideia de Peri era salvar
Álvaro. Não só pela amizade que lhe tinha, como por causa da Cecília, que ele
supunha amar o cavaleiro; vendo, porém, o corpo continuava inanimado, acreditou
que Álvaro estava morto.
Apesar disso não desistiu do seu
propósito; morto ou vivo devia leva-lo àqueles que o amavam, ou para o
restituírem à vida, ou para darem sobre o seu corpo o pranto de despedida.
(ALENCAR, José de. O guarani. 11. Ed. São Paulo, Ática, 1984. P.191-3)
VOCABULÁRIO:
Tangapema: tacape
ANÁLISE DO TEXTO
1
– Que características da casa de D. Antônio de Mariz nos lembra um castelo
medieval?
2
– Como pode ser caracterizado o sentimento de Peri em relação à morte de
Álvaro? Justifique sua resposta com duas citações do texto.
3
– O que pretendeu o narrador ao demonstrar ao leitor o caráter extremamente
humano e sentimental de Peri?
4
– Apesar de se inscrever na temática indianista, o narrador focaliza
personagens do início da nossa colonização. Que caráter isso dá ao texto?
REFLEXÃO DO TEXTO
“Quando os índios iam precipitar-se sobre o cavaleiro, Peri saltou no
meio deles, e agarrando a espingarda que estava a seus pés, fez dela uma arma
terrível, uma clava formidável, cujo poder em breve sentiram os aimorés.”
- Por que os românticos do Novo
Mundo sentiam necessidade de conceber heróis como Peri e propriedades como a de
D. Antônio de Mariz?
ANÁLISE COMPARATIVA
Trinta e um anos antes da
publicação de O guarani, James Cooper
(1789-1851), romancista norte-americano, considerado o primeiro grande
ficcionista de seu país, publicou O
último dos moicanos (1826).
Leia um pequeno trecho do
romance de Cooper:
“O jovem oficial experimentou na
rápida agonia desse momento todos seus horrores. Nesse instante de perigo
extremo, uma mão morena e uma faca apareceram diante de seus olhos. O Índio
soltou a empunhadura enquanto o sangue jorrava livre dos vários tendões do
punho, e quando Duncan foi puxado para trás pelo braço salvador de Uncas, seus
olhos continuavam fixos no semblante feroz e desapontado do inimigo, que caiu
de repente pela borda de um precipício de onde não havia salvação.”
(COOPER, James Fenimore. O último dos moicanos. Trad. De Ruy Jungmann.
Rio de janeiro, Ediouro, s.d.p.58.)
- Que semelhanças podemos
observar entre o texto de Alencar e o de Cooper?
Precisa copiar os textos também?
ResponderExcluirAínda da dá tempo de fazer as atividades?
ResponderExcluirE que não tenho acesso fácil a internet.